quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Treble Bleed - Que raios é isso?



          Muitos guitarristas percebem que, quando diminuem um pouco o volume de suas guitarras, elas perdem, em muito, os agudos e um pouco da "pegada" natural da guitarra. Assim sendo, a maioria dos guitarristas optam por usar o volume da guitarra sempre no máximo, o que resulta na perda de um grande recurso, que é ter o potenciômetro de volume ao alcance da mão todo o tempo.

          O motivo de isso acontecer é simples: A corrente sempre busca por pontos de terra, e devido às características do circuito de tonalidade e volume da guitarra, sempre que o volume é diminuído, grande parte desse sinal vai, obviamente, em direção ao ponto de terra ao invés de ir pro amplificador. Entretanto, esse sinal não é “separado” igualmente, o que resulta a indesejável perda de agudos. Esse tipo de comportamento é mais facilmente percebido em single coils, devido às suas características, e é causado, basicamente, pela forma como o potenciômetro e a capacitância dos cabos atuam formando um filtro (que corta altas frequências). Em situações onde o controle de volume está no máximo, esse filtro atua apenas em frequências muito altas (não perceptíveis ao ouvido humano) no entanto, quando o volume é reduzido, aumentando assim a resistência, ele (o filtro) passa a cortar frequências audíveis. Normalmente os agudos.

          Não existem valores exatos para os capacitores usados no Treble Bleed, e isso acontece devido ao fato de não existir um padrão rígido em cima das características de cada captador, cabo, potenciômetros e, acima de tudo, das preferências de timbre de cada guitarrista. Dessa forma, atente que, ao fazer o Treble Bleed, teste vários valores de capacitores até encontrar o valor exato cujo timbre mais lhe agradar. Como referência (dica) use sempre capacitores que vão de 680pF até 2000pF.

          Existem vários circuitos de Treble Bleed, e todos atuam basicamente da mesma forma, mas em frequências um pouco diferentes dependendo da configuração. Abaixo, dois métodos que são os mais comuns e eficazes meios de como fazer Treble Bleed em sua guitarra:

Método 1: Simplesmente conectar um capacitor cujo valor pode ser qualquer um no range citado acima (680pF até 2000pF), entre os terminais que estão conectados à chave seletora e à saída. Usualmente, terminais 3 e dois do potenciômetro de volume. Conforme ilustrado abaixo:
 
Usando apenas um capacitor.

          No entanto, essa configuração pode trazer um problema; ao diminuir o volume, o som pode retornar agudo e magro demais. Para equilibrar essa equação e conseguirmos obter o som que buscamos, o segundo método poderá equilibrar totalmente o timbre onde não foi possível com o primeiro método.

Método 2: Aqui, um capacitor é conectado da mesma maneira que foi mostrada no método 1, entretanto, adicionalmente conectaremos um resistor em paralelo com o capacitor. Mais uma vez não existe uma valor exato que deve ser atribuído a esse resistor, no entanto costuma-se usar valores que variam entre 60% à 100% do valor do potenciômetro de volume. Veja o esquema na imagem abaixo:
     Capacitor + resistor em paralelo.

          Faço isso com minhas guitarras desde meados de 1995, e assim ganho uma infinidade de novas nuances de volume, sem perder agudos e a "pegada" natural do instrumento.

Obs.: Os esquemas foram tirados do site: seymourduncan.com

terça-feira, 13 de setembro de 2016

"Coisinhas coloridas", os CAPACITORES.




          Indubitavelmente, quando começamos a entender como funciona uma guitarra, chega um momento em que olhamos para aquela pequena (e geralmente colorida) "coisinha" ligada no botão de tonalidade, o capacitor, e pensamos: "Bem, ele atua na tonalidade e quanto maior o seu valor, maior a diminuição dos agudos". Isso já bastaria para uma compreensão básica, mas quando seguimos adiante e desejamos maior domínio sobre o timbre, somos obrigados a conhecê-lo mais profundamente.

          Em linguagem prática, o capacitor é basicamente um filtro de agudos. Observe que ele recebe o sinal/som do captador de um lado, e no outro, ele está ligado ao terra. Assim, ele joga fora/deixa escapar (para o terra) apenas as frequências mais altas do sinal. Quanto maior o valor do capacitor, mais baixo é o seu ponto de corte de frequências, ou seja, maior a amplitude de frequências agudas que ele filtra.

          O potenciômetro de tonalidade tem a função de controlar o quanto do sinal vai para o capacitor. No "10", ele não envia nada e o capacitor não filtra nada (teoricamente), no "0", ele envia 100% do sinal e o capacitor desvia para o terra (joga fora, retira do sinal que vai para o jack de saída) todos os agudos a partir do seu ponto de corte. Mas não deixa o restante das frequências "escoarem" pelo terra. Essas permanecem intactas e seguem seu caminho pelo cabo até o amplificador.

           Usei o termo "teoricamente" porque alguns guitarristas (me incluo) afirmam que mesmo no "10" o conjunto potenciômetro + capacitor atua sobre o timbre. Há de fato uma diferença, com aumento dos agudos, quando deixamos a guitarra sem os controles de tonalidade.

           O potenciômetro de volume* tem uma ação parecida, também desviando para o "lixo" (terra) o sinal, na medida que vai sendo diminuído. Então, antes de tudo, temos que estar cientes que o sistema de aterramento de uma guitarra não serve só para eliminar o ruído inerente das estruturas. Ele também é usado para "desviar/atenuar" o sinal do captador (potenciômetro de volume) ou frequências que são filtradas dele (potenciômetro de tonalidade + capacitor).

* Treble Bleed – O que é e como fazer! (O próximo post será sobre esse tópico, o capacitor ligado ao potenciômetro de volume merece atenção especial).

          Em linguagem técnica, capacitor (ou condensador) é uma estrutura que armazena energia num campo elétrico, que, acoplado a um potenciômetro de tonalidade, filtra agudos. 


Tipos de Capacitores Para Guitarras

          Existem vários tipos de capacitores, de estrutura e materiais distintos, mas todos basicamente com a mesma função.

          Para guitarras, os capacitores mais comumente usados são:

          Cerâmicos;
          Poliéster (inclui Mylar);
          Polipropileno;
          PIO (paper in oil - à óleo).

 
Cerâmico. 

 
Poliéster. 

 
Polipropileno. 

PIO

          Os famosos Orange Drop 715p são de polipropileno, os 225p são de poliéster. Já os lendários Bumble Bees das Gibson vintage, são PIO (papel em óleo/á óleo). A maioria das guitarras chinesas tem capacitores de poliéster (geralmente verdes ou azuis) e várias Gibson atuais usam capacitores cerâmicos. As Fender geralmente têm capacitores de poliéster ou às vezes cerâmicos. Com exceção de alguns PIO feitos exclusivamente para guitarras. Capacitores são, em geral, muito baratos, coisa de centavos às vezes. Os Bumble Bees originais em bom estado chegam a custar até 500 dólares!
 Bumble Bee (abelha)

          O tipo de material e o valor (capacitância) é que vão caracterizar um capacitor e a maneira como ele atua sobre o timbre. Os "PIO" são conhecidos por serem suaves e "musicais". Já os de poliéster costumam atuar de forma mais efetiva e rápida sobre os agudos, eles realmente "fecham" o timbre. Os valores são importantíssimos. A medida de valor usada é "Farad - ou Faraday" e pra nós é geralmente confusa por causa da nomenclatura: micro/nano/pico faraday. O Farad é uma unidade muito alta para aplicações comuns. Usa-se então sub múltiplos. Geralmente a escala é "Microfaraday/uF" e podemos usar essa regra (ex.): 0.022uF = 22nF = 22.000pF (ou 22K, como às vezes aparece). Daqui pra frente, só usaremos microFarad/uF. 


Qual Capacitor Usar?

          Captadores single coil do tipo Fender por sua natureza mais aguda, geralmente requerem capacitores de .047uF (Leia: "ponto zero 47 microFarads" ou só "zero 47"), mas ultimamente a própria Fender padronizou em .022uF, provavelmente porque o gosto geral está mais para o agudo. Nos anos 50, o valor comum era bem mais alto: .100uF. Já os Humbuckers, naturalmente com menos agudos, pedem capacitores de menor valor, portanto, que filtram menos agudos. A Gibson costuma usar .022uF em ambos ou .022uF no captador da ponte e .015uF no captador do braço. Cerâmicos na linha comum e PIO nas custom shop.

          Os capacitores a óleo e cera, muito usados na década de 40 e 50, são raros hoje em dia, pois existem modelos mais eficientes. O problema é o timbre com agudos macios que as vezes só conseguimos com os PIO.

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Ajuste do tensor e saddles


Guitarras:

           Com o instrumento afinado (as cordas devem aferir sua tensão integral ao instrumento, vez que o tensor da guitarra suporta a ação integral da tensão das cordas) gire o tensor em direção à sexta corda (a mais grave) para tornar o braço mais convexo, ou em direção à primeira corda (a mais fina) para torná-lo mais côncavo. Pode ser (e quase sempre é) necessário tirar alguma corda do nut para conseguir girar a chave. 


          Deixe o braço o mais reto possível. 

          Ajustado o tensor, passe então para os saddles (carrinhos) e tente abaixá-los (mas atenção, o carrinho deve ficar sempre RETO, ou seja, os dois parafusos que o regulam devem estar rigorosamente na mesma altura) o máximo possível, sem que isso cause trastejamento. 


Contrabaixos:

          Como o calibre das cordas no contrabaixo é maior, por melhor que seja a madeira do braço, ele vai emborcar um pouco, então, faça o seguinte:

          Com o instrumento desafinado (cordas soltas, pois as cordas afinadas aplicam muita força ao tensor) procure deixar o braço ligeiramente convexo, pois assim, quando afinar o instrumento as cordas puxarão o braço naturalmente e ele ficará reto (talvez o procedimento tenha que ser repetido até o braço do contrabaixo [afinado] ficar reto). 

          Ajustado o tensor passe agora para os saddles (carrinhos) e tente abaixá-los o máximo possível sem que isso cause trastejamento. 


          Entretanto, se mesmo fazendo isso seu instrumento ainda não aceitou uma regulagem satisfatória, passemos ao segundo passo.

Ajuste do ângulo do braço (instrumentos com o braço parafusado)
 
          Se se as cordas não chegam até o braço, cheguemos o braço até as cordas! Isso é o que chamamos de ajuste do ângulo do braço. O procedimento é o mesmo feito pelos luthiers, com a diferença, é claro, que eles possuem todas as ferramentas necessárias, materiais, e a técnica para executar um serviço perfeito. Vou passar um anódino, entretanto, funciona.


          Desparafuse o braço da guitarra ou contrabaixo (lembre-se de memorizar a posição dos parafusos, pois, em alguns casos, têm tamanhos diferentes). Corte pequenas tiras de cartolina, aproximadamente 1cm de largura, e procure ajustar o comprimento para que elas não tapem os buracos dos parafusos. Pegue uma porção delas (comece, por exemplo, com 2mm) e coloque-as no encaixe do corpo, na parte onde a ponta do braço encosta nele. 

          
          Parafuse novamente o braço, ajuste de novo os saddles e verifique se melhorou. Caso ainda esteja alto, repita o procedimento, experimente colocar mais algumas tiras. Vá testando até chegar a um resultado satisfatório. Mas lembre-se: não espere transformar um instrumento 'fuleiro' em uma máquina, atenha-se à realidade. Esse procedimento melhora em muito a ação das cordas.


sexta-feira, 8 de julho de 2016

Ímã cerâmico ou ímã alnico? Captadores...


Captadores e seus principais tipos de Ímãs. 

Cerâmicos (ferrite): são ímãs compostos de ferro, apresentam “saída” alta, ou seja, produzem um som robusto, cheio e forte. Em geral, equipam guitarras de baixo custo, por serem baratos. Não produzem nenhuma característica de timbre "especial".


          Abaixo, o de ímã cerâmico, com suas bordas "certinhas" e arredondadas. 


 

Alnico: são ímãs produzidos a partir de ligas de ferro/alumínio/níquel/cobalto, ou seja, aço com elementos de liga. Os primeiros ímãs de alnico datam da década de 1930, antecedem a criação das primeiras guitarras de corpo sólido. São utilizados tanto em single coils quanto em humbuckers. Possuem “saída” baixa,  inferior aos ímãs cerâmicos, porém, em contrapartida, produzem aquele som “estalado”, característico de uma boa strato, cheios de harmônicos e de grande dinâmica.


          Abaixo, o captador de ímã alnico, com suas bordas aparentando terem sido mal cortadas.
        




Como identificar um single coil cerâmico e um de alnico ?

Cerâmico: possui superfície com corte plano e bisotado (corte em ângulo nas bordas) e cobertura superficial protetora (zinco, níquel ou cromo) o que dá aos polos com aparência polida e brilhante. Em geral, todos os seis ímãs de um single coil cerâmico apresentam a mesma “altura”, o nivelamento é relativo à capinha plástica do captador.

Alnico: possui superfície com corte plano não tratado (sem bisotamento), ou seja, com bordas e sem polimento. Em geral, é possível ver as ranhuras produzidas pelo disco de corte no metal.Têm cor característica de aço “cru”, levemente acinzentado. Não recebem cobertura superficial e apresentam polos desnivelados horizontalmente.


Outros ímãs Utilizados:

Imãs de Neodymium: chamados de super ímãs. São produzidos através da combinação de três elementos: neodymium/ferro/boro. É o tipo de ímã mais moderno e potente ora disponível, possui as melhores propriedades eletromagnéticas. São muito suscetíveis à corrosão, assim apresentam sempre, tratamento superficial (zincagem ou niquelagem). Em termos de preço, somente são superados pelos ímãs de samarium/cobalto. São usados geralmente em captadores single coils, a pastilha do ímã de neodymium fica “ensanduichada” entre dois pinos de aço cromo/bronze, produzindo intenso fluxo magnético, superior aos cerâmicos e alnicos. Os captadores de Neodymium geram timbres limpos com boa potência de saída e sem chiados.


Neodymium.

Imãs de Samarium/Cobalto: produzidos com a liga ferro/samário/cobalto e conhecidos pela combinação Sm/Co. Apresentam excelentes propriedades eletromagnéticas e grande fragilidade mecânica, assim, deve-se evitar (a todo custo) choques e quedas dos ímãs/captadores. Os captadores feitos com o ímã Sm/Co apresentam bom nível de saída, excelentes características de timbre e boa resistência à corrosão, sendo, em geral, os mais caros captadores do mercado. Consequência de serem os ímãs de Sm/Co os mais caros dentre todos.




Samarium.