terça-feira, 13 de setembro de 2016

"Coisinhas coloridas", os CAPACITORES.




          Indubitavelmente, quando começamos a entender como funciona uma guitarra, chega um momento em que olhamos para aquela pequena (e geralmente colorida) "coisinha" ligada no botão de tonalidade, o capacitor, e pensamos: "Bem, ele atua na tonalidade e quanto maior o seu valor, maior a diminuição dos agudos". Isso já bastaria para uma compreensão básica, mas quando seguimos adiante e desejamos maior domínio sobre o timbre, somos obrigados a conhecê-lo mais profundamente.

          Em linguagem prática, o capacitor é basicamente um filtro de agudos. Observe que ele recebe o sinal/som do captador de um lado, e no outro, ele está ligado ao terra. Assim, ele joga fora/deixa escapar (para o terra) apenas as frequências mais altas do sinal. Quanto maior o valor do capacitor, mais baixo é o seu ponto de corte de frequências, ou seja, maior a amplitude de frequências agudas que ele filtra.

          O potenciômetro de tonalidade tem a função de controlar o quanto do sinal vai para o capacitor. No "10", ele não envia nada e o capacitor não filtra nada (teoricamente), no "0", ele envia 100% do sinal e o capacitor desvia para o terra (joga fora, retira do sinal que vai para o jack de saída) todos os agudos a partir do seu ponto de corte. Mas não deixa o restante das frequências "escoarem" pelo terra. Essas permanecem intactas e seguem seu caminho pelo cabo até o amplificador.

           Usei o termo "teoricamente" porque alguns guitarristas (me incluo) afirmam que mesmo no "10" o conjunto potenciômetro + capacitor atua sobre o timbre. Há de fato uma diferença, com aumento dos agudos, quando deixamos a guitarra sem os controles de tonalidade.

           O potenciômetro de volume* tem uma ação parecida, também desviando para o "lixo" (terra) o sinal, na medida que vai sendo diminuído. Então, antes de tudo, temos que estar cientes que o sistema de aterramento de uma guitarra não serve só para eliminar o ruído inerente das estruturas. Ele também é usado para "desviar/atenuar" o sinal do captador (potenciômetro de volume) ou frequências que são filtradas dele (potenciômetro de tonalidade + capacitor).

* Treble Bleed – O que é e como fazer! (O próximo post será sobre esse tópico, o capacitor ligado ao potenciômetro de volume merece atenção especial).

          Em linguagem técnica, capacitor (ou condensador) é uma estrutura que armazena energia num campo elétrico, que, acoplado a um potenciômetro de tonalidade, filtra agudos. 


Tipos de Capacitores Para Guitarras

          Existem vários tipos de capacitores, de estrutura e materiais distintos, mas todos basicamente com a mesma função.

          Para guitarras, os capacitores mais comumente usados são:

          Cerâmicos;
          Poliéster (inclui Mylar);
          Polipropileno;
          PIO (paper in oil - à óleo).

 
Cerâmico. 

 
Poliéster. 

 
Polipropileno. 

PIO

          Os famosos Orange Drop 715p são de polipropileno, os 225p são de poliéster. Já os lendários Bumble Bees das Gibson vintage, são PIO (papel em óleo/á óleo). A maioria das guitarras chinesas tem capacitores de poliéster (geralmente verdes ou azuis) e várias Gibson atuais usam capacitores cerâmicos. As Fender geralmente têm capacitores de poliéster ou às vezes cerâmicos. Com exceção de alguns PIO feitos exclusivamente para guitarras. Capacitores são, em geral, muito baratos, coisa de centavos às vezes. Os Bumble Bees originais em bom estado chegam a custar até 500 dólares!
 Bumble Bee (abelha)

          O tipo de material e o valor (capacitância) é que vão caracterizar um capacitor e a maneira como ele atua sobre o timbre. Os "PIO" são conhecidos por serem suaves e "musicais". Já os de poliéster costumam atuar de forma mais efetiva e rápida sobre os agudos, eles realmente "fecham" o timbre. Os valores são importantíssimos. A medida de valor usada é "Farad - ou Faraday" e pra nós é geralmente confusa por causa da nomenclatura: micro/nano/pico faraday. O Farad é uma unidade muito alta para aplicações comuns. Usa-se então sub múltiplos. Geralmente a escala é "Microfaraday/uF" e podemos usar essa regra (ex.): 0.022uF = 22nF = 22.000pF (ou 22K, como às vezes aparece). Daqui pra frente, só usaremos microFarad/uF. 


Qual Capacitor Usar?

          Captadores single coil do tipo Fender por sua natureza mais aguda, geralmente requerem capacitores de .047uF (Leia: "ponto zero 47 microFarads" ou só "zero 47"), mas ultimamente a própria Fender padronizou em .022uF, provavelmente porque o gosto geral está mais para o agudo. Nos anos 50, o valor comum era bem mais alto: .100uF. Já os Humbuckers, naturalmente com menos agudos, pedem capacitores de menor valor, portanto, que filtram menos agudos. A Gibson costuma usar .022uF em ambos ou .022uF no captador da ponte e .015uF no captador do braço. Cerâmicos na linha comum e PIO nas custom shop.

          Os capacitores a óleo e cera, muito usados na década de 40 e 50, são raros hoje em dia, pois existem modelos mais eficientes. O problema é o timbre com agudos macios que as vezes só conseguimos com os PIO.

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